Sunday, January 22, 2012

e séries?


o que tens visto nos últimos tempos?










é, quanto muito, engraçadote

"Este ano a mãe comprou-me uns coletes novos e as Obras Completas de ee.cummings, que eu lhe pedi especificamente e que ela teve que encomendar propositadamente. Verifico o preço e sinto uma aguilhoada de culpa, o caro que aquilo foi, o salário de um dia, no mínimo, mas agradeço-lhe e dou-lhe um beijo na face e em troca dou-lhe as minhas prendas - um cestinho de verga de coisas cheirosas da Body Shop e uma edição popular em segunda-mão de Casa Sombria.
- Então que é isto?
- É o meu Dickens preferido. É genial.
- 'Casa Sombria'? Parece esta casa.
E aquilo dita mais ou menos o tom para o dia, na verdade. Dickensiano."

in Uma questão de atracção, David Nicholls

Saturday, January 14, 2012

era uma vez uma empresa

Era uma vez uma empresa. Esta história é igual a muitas outras, mas com uma nuance: esta história é, agora, também minha. Nos últimos meses, desde que nos foi comunicada a decisão de encerrar a unidade de investigação onde trabalho, tive que me despedir de colegas com quem partilhei o dia-a-dia durante dois anos. Tive que abandonar projectos em que investi esforço e esperança.

A carta a comunicar a extinção dos nossos postos de trabalho tinha o logotipo "Investir nas pessoas" - irónica deturpação de conceitos. Empresas compram outras, decidem fechar unidades, levar a tecnologia para outras paragens. Reduzem custos e despedem trabalhadores. Tudo é feito com uma precisão cirúrgica, porque é fácil, tão dolorosamente fácil, eliminar pessoas. É como que se nunca tivéssemos existido.

Wednesday, January 4, 2012

o primeiro de 2012

'Tudo não passou de um instante, irrepetível e irreproduzível. Um momento particular, é certo, no qual uma mulher desafiou ou foi forçada a confrontar uma autoridade que a impedia de fazer aquilo que julgava certo. Mas achas mesmo que esse instante merece tudo isso?'

'Foi um instante, mas que dura para sempre', respondi, as minhas palavras parecendo pela primeira vez verdadeiras, como se viessem de um lugar remoto e desconhecido. 'Talvez durem todos os instantes de quem tem razão e, ainda assim, fracasse.'

in Anatomia dos Mártires, João Tordo


PS. Já ia a meio do livro quando embarquei no avião que me iria trazer de volta a Londres e acabei de lê-lo antes de passar pelo controlo de passaportes, aquando da minha chegada. Não faço por isso outras considerações que vão muito para além do facto de ter achado o livro bem escrito. Para dizer mais do que isto, e fazê-lo sem enumerar uma série de disparates, teria que ter lido este livro muito mais devagar. Não me importa, assim, saber que o livro foi apresentado pelo Pacheco Pereira. Não quero saber o que ele disse ou as análises que fez sobre a obra.


O João Tordo é um bom escritor e sabe contar histórias. Posso até não me rever na sua 'tentativa de reconciliação de um escritor nascido imediatamente após a revolução de Abril com o passado'. Anatomia dos Mártires é um livro comovente, não tanto pelo conteúdo mas principalmente pelo magnífico uso da língua portuguesa - e isso, penso eu, conta muito.

o último de 2011

"Angry at what?, Sandy asked anxiously.

She was a strapping woman with stern gray eyes and hair short as a soldier's under her gray Red Cross cap, but it was in the softest maternal tones, with a gentleness that came as yet another of the day's surprises, as though Sandy were one of her very own charges, that she explained, 'At what people get angry at - at how things turn out'."


in Plot against America, Philip Roth