'Tudo não passou de um instante, irrepetível e irreproduzível. Um momento particular, é certo, no qual uma mulher desafiou ou foi forçada a confrontar uma autoridade que a impedia de fazer aquilo que julgava certo. Mas achas mesmo que esse instante merece tudo isso?'
'Foi um instante, mas que dura para sempre', respondi, as minhas palavras parecendo pela primeira vez verdadeiras, como se viessem de um lugar remoto e desconhecido. 'Talvez durem todos os instantes de quem tem razão e, ainda assim, fracasse.'
in Anatomia dos Mártires, João Tordo
PS. Já ia a meio do livro quando embarquei no avião que me iria trazer de volta a Londres e acabei de lê-lo antes de passar pelo controlo de passaportes, aquando da minha chegada. Não faço por isso outras considerações que vão muito para além do facto de ter achado o livro bem escrito. Para dizer mais do que isto, e fazê-lo sem enumerar uma série de disparates, teria que ter lido este livro muito mais devagar. Não me importa, assim, saber que o livro foi apresentado pelo Pacheco Pereira. Não quero saber o que ele disse ou as análises que fez sobre a obra.
O João Tordo é um bom escritor e sabe contar histórias. Posso até não me rever na sua 'tentativa de reconciliação de um escritor nascido imediatamente após a revolução de Abril com o passado'. Anatomia dos Mártires é um livro comovente, não tanto pelo conteúdo mas principalmente pelo magnífico uso da língua portuguesa - e isso, penso eu, conta muito.
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