Tuesday, February 7, 2012

escolhas (ou a falta delas)

Queria aprender mais - foi minha a escolha quando saí de Portugal há quase cinco anos atrás. O meu doutoramento incluía uma colaboração entre o Instituto Superior Técnico e a Universidade de Glasgow. Na Escócia encontrei melhores condições de trabalho, mas mais do que tudo, esta experiência contribuiu, de forma decisiva, para o abrir dos meus horizontes científicos e pessoais. Conheci pessoas de todo o mundo, partilhei com elas a minha cultura e através delas conheci um mundo diferente. Depois de acabar o meu doutoramento continuei por aqui, mas desta vez tratou-se de uma decisão e não de uma escolha, se é que me faço entender.

Repito isto muitas vezes: os meus conhecimentos e a metodologia que uso no meu dia-a-dia e que me permitem desenvolver com eficácia o meu trabalho foram alicerçados nas salas de aula do meu país. Estranhamente, e apesar da minha aprendizagem me ter garantido emprego numa das mais prestigiadas empresas de biotecnologia americanas, o meu país não me quer de volta.

Leio nos jornais esta vaga de insultos ao nosso povo e isso deixa-me imensamente triste. Chamam-nos piegas, preguiçosos, apelam ao êxodo, como se isso foi coisa fácil. Falam como se não tivessem responsabilidade alguma, como se fossemos inquilinos do nosso próprio país. Oferecem-nos a ignorância e a miséria, tiram-nos o horizonte, o chão, a esperança. Os ecos de casa trazem notícias cada vez mais tristes.

Antes do 25 de Abril, muitos foram os que saíram por serem perseguidos e outros tantos foram empurrados pela fome e desespero. Sinto que estamos cada vez mais próximos dessa realidade. Acredito que as portas do meu país se estão novamente a fechar - para muitos de nós, o voltar a casa pode não ser uma opção e isso é terrivelmente cruel.

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