"Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (...), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de o não ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: 'A partir de hoje chamar-me-eis Justiça'. E a multidão respondeu-lhe: 'Justiça já nós a temos, e não nos atende'. Disse Deus: 'Sendo assim, tomarei o nome de Direito'. E a multidão tornou a responder-lhe 'Direito já nós o temos, e não nos conhece'. E Deus:' Nesse caso ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito'. Disse a multidão: 'Não necessitamos de caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite".
Excerto do Prefácio escrito por José Saramago para o livro "Sem terra", Sebastião Salgado
in Cadernos de Lanzarote - Diário IV
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