Não me lembro de ter lido isto antes de ter o pensado - mas lá está enunciada, nos inevitáveis Cadernos, muito melhor do que alguma vez conseguirei articular, esta inocente constatação. Da primeira vez que eu e a Marta fomos a Londres optámos por sobrevoar a Galeria Nacional, traumatizadas que estávamos pela visita ao Museu Nacional da Catalunha onde fomos cilindradas por centenas de quadros. Culpa nossa, marinheiras de primeira viagem que não queriam voltar a casa sem ver tudo de fio a pavio, por muito doloroso e infrutífero que fosse.
A Galeria Nacional oferecia visitas temáticas, que incluia a análise breve de 4 ou 5 quadros. Perfeito. O tema que nos calhou em sorte foi o "Sono". Um dos quadros que visitámos tratava uma cena bíblica - não era, de todo, quadro que me fizesse abrandar o passo. Mas saber o contexto, os personagens e a função que teriam tido naquela história fizeram-me gostar do que vi. E foi aí que pensei, com a alegria que nos trazem as pequenas revelações: os quadros são livros. Nesta forma de arte, tal como na literatura, os artistas maiores são aqueles que connosco falam, com sensibilidade e humor, questionando as nossas certezas. São aqueles que contam uma história que queremos ouvir.
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