Monday, March 26, 2012

arrumações

Andei em arrumações cá em casa. A estante já estava a rebentar com tantos livros e resolvemos (ideia da Marta, claro!) acrescentar umas quantas prateleiras. Organizei livros e DVDs por género, autor e altura. Enfim, a altura talvez tenha sido o critério dominante - não tenho assim tantos livros do mesmo autor e não tive tempo para pensar em que géneros se divide a minha biblioteca. Criei, isso sim, uma categoria chamada "os DVDS que me envergonho de algum dia ter comprado e visto e que, mesmo sob tortura, nunca reconhecerei como sendo meus".

Saturday, March 24, 2012

cadernos de lanzarote

Pedi ao meu pai que me comprasse os Cadernos de Lanzarote e cá estavam eles à minha espera. Na entrada de 18 de Maio de 1993, Saramago transcreve uma comovedora carta de uma leitora que lhe agradece "o pão das suas palavras". Gostaria de ter escrito isto. Os livros de Saramago são simplesmente isso, pão - precisamos deles para nos fazermos gente.

*

"Chegado agora a estes dias, os meus e os do mundo, vejo-me diante de duas probabilidades: ou a razão, no homem, não faz senão dormir e engendrar monstros, ou o homem, sendo indubitavelmente um animal entre os animais, é, também indubitavelmente, o mais irracional de todos eles. Vou-me inclinando cada vez mais para a segunda hipótese, não por ser eu morbidamente propenso a filosofias pessimistas, mas porque o espectáculo do mundo é, em minha fraca opinião, e de todos os pontos de vista, uma demonstração explícita e evidente do que chamo a irracionalidade humana. Vemos o abismo, está aí diante dos olhos, e contudo avançamos para ele como uma multidão de lemings suicidas, com a capital diferença de que, de caminho, nos vamos entretendo a trucidar-nos uns aos outros."
Diário I, Cadernos de Lanzarote
José Saramago

de regresso a casa

As coisas parecem todas mais pequeninas. O meu quarto e a cama onde costumava dormir, as ruas. Interrompo por breves instantes as vidas e rotinas daqueles que reencontro e continuo a andar, espantada com a estranheza que é estar de volta.

Tuesday, March 20, 2012

uma caixa apenas

Ainda não me fui embora e já aqueles corredores me parecem estranhos. Uma caixa bastou para arrumar cadernos de laboratório, protocolos, artigos e outras coisas que ainda me podem ser úteis na vida pós-GZ. Dois anos cabem em muito pouco, pensei, ao olhar para aquela caixa. Parte da minha vida está ali, colada àqueles páginas, cheias de resultados, dados e planos.
Dois anos, assim arrumados, são um instante breve, um suspiro. Mas talvez nada disso importe, dois, dez, vinte anos, tanto faz. As pessoas, o que aprendemos, as alegrias e as tristezas - essas memórias não cabem numa pequena caixa de cartão, levo-as comigo e são do tamanho do mundo.

Saturday, March 17, 2012

brinquedo novo

Comprei um kindle! Gosto muito do meu brinquedo novo - está cheio de livros, tem uma capa vermelha, gira, e vai fazer-me companhia durante as minhas andanças por esse mundo fora. É como ter uma biblioteca imensa na palma da mão - não é tão bom?


uma espécie de pássaro


Monday, March 5, 2012

do bolo de arroz à salvação nacional

Digam ao Álvaro que o futuro do nosso país não está só no pastel de nata, mas também no bolo de arroz. Aliás, a internacionalização da doçaria nacional já chegou a Cambridge. Comprei este fim-de-semana, na estação de comboio, um bolinho de arroz - o mesmo papel a dizer "bolo de arroz", provando não se tratar de uma falsificação, e a mesma crosta açucarada que invariavelmente como primeiro. Vendem-no com outro nome, portuguese madeira cake, vá-se lá saber porquê.

Sunday, March 4, 2012

as irmãs woolf

"I do not like this picture. All my painter's instincts reject the obtrusive symbolism, the fragments of a narrative that thwart my desire to see. Despite my objections, my mind races with the possible interpretations. Is this the hand of God in close-up on the left? Are the birds a pair? What am I to make of the cruel contraption? Or the balloon, floating apparently freely in the distance? This is not a painting, I want to shout, this is pictorial inquisition. It forces us to think, not to look."

in Vanessa and Virginia, Susan Sellers