Monday, April 30, 2012

Wednesday, April 25, 2012

hoje nascia um país novo

Hoje nascia um país novo, o meu. Um país em construção: abril das mil cores, dos sonhos mil. Abril do futuro, abril do mais improvável dos sonhos. 

Manhã orvalhada, imensa a planície. 
Searas, um azul sem fim. 
Papoilas.
Abril de todas as esperas,
Chegaste enfim.

Tuesday, April 24, 2012

Monday, April 23, 2012

justiça, direito e caridade

"Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (...), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de o não ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: 'A partir de hoje chamar-me-eis Justiça'. E a multidão respondeu-lhe: 'Justiça já nós a temos, e não nos atende'. Disse Deus: 'Sendo assim, tomarei o nome de Direito'. E a multidão tornou a responder-lhe 'Direito já nós o temos, e não nos conhece'. E Deus:' Nesse caso ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito'. Disse a multidão: 'Não necessitamos de caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite". 

Excerto do Prefácio escrito por José Saramago para o livro "Sem terra", Sebastião Salgado
in Cadernos de Lanzarote - Diário IV

Saturday, April 21, 2012

21 de abril, 2012

Hoje encontrei-me com a Jill em Londres. Uma das minhas melhores amigas de Glasgow, companheira de muitas chávenas de chá, já não a via desde Novembro. Havia, por isso, muito que conversar. Passeámos e falámos, conversámos e continuámos a andar: pelos corredores do Museu Vitória e Alberto, atravessámos salas majestosas e fomos observadas de perto por estátuas gregas e esfinges, vimos jóias e caixinhas de porcelana. No Museu de História Natural, o meu preferido, vimos fotografias espantosas de uma vida selvagem que eu tanto gostaria de conhecer de perto. E como nestas andanças por Londres é difícil uma pessoa escapar-se a um destino assim, o dia terminou com uma sopa de tomate, feita a pensar nestes paladares. A pior sopa que existe à face desta terra.

Wednesday, April 18, 2012

mr. kurt wagner

Excelente entrevista de João Bonifácio a Kurt Wagner, o "tipo que fez carreira graças à sua capacidade de tornar a tristeza bela". Conversa a propósito do novo álbum dos Lambchop, Mr. M, disco cheio de músicas "para quando estás a beber um copo sozinho ou com aquelas poucas pessoas que são verdadeiramente íntimas".

Obrigatório ler, aqui.


PS. Já vi os Lambchop três vezes. Em Lisboa, na Aula Magna (2004). Depois em Glasgow (2008), num pub pequenino, em que me sentei no chão a ouvi-los. Finalmente em Londres, há cerca de um mês, no Barbican Centre. Thanks Mr. K, see you soon.

planos

A Inês chega para a semana a tempo de comemorarmos o 25 de Abril. Vou largá-la em Cambridge quinta e sexta-feira e deixá-la explorar, a seu tempo, a cidade, os colégios e edifícios da Universidade, o Jardim Botânico e os museus. Dois dias é tempo mais do que suficiente para saber de cor cada pedra de calçada destas ruas e, por isso, Sábado e Domingo estaremos por Londres. Os bilhetes para a exposição de Picasso & Arte Moderna Britânica na Tate Britain já estão comprados. Mais certamente haverá para fazer - gosto tanto de receber visitas.


Tuesday, April 17, 2012

a pintura foi a primeira forma de literatura

Não me lembro de ter lido isto antes de ter o pensado - mas lá está enunciada, nos inevitáveis Cadernos, muito melhor do que alguma vez conseguirei articular, esta inocente constatação. Da primeira vez que eu e a Marta fomos a Londres optámos por sobrevoar a Galeria Nacional, traumatizadas que estávamos pela visita ao Museu Nacional da Catalunha onde fomos cilindradas por centenas de quadros. Culpa nossa, marinheiras de primeira viagem que não queriam voltar a casa sem ver tudo de fio a pavio, por muito doloroso e infrutífero que fosse.

A Galeria Nacional oferecia visitas temáticas, que incluia a análise breve de 4 ou 5 quadros. Perfeito. O tema que nos calhou em sorte foi o "Sono". Um dos quadros que visitámos tratava uma cena bíblica - não era, de todo, quadro que me fizesse abrandar o passo. Mas saber o contexto, os personagens e a função que teriam tido naquela história fizeram-me gostar do que vi. E foi aí que pensei, com a alegria que nos trazem as pequenas revelações: os quadros são livros. Nesta forma de arte, tal como na literatura, os artistas maiores são aqueles que connosco falam, com sensibilidade e humor, questionando as nossas certezas. São aqueles que contam uma história que queremos ouvir.

Monday, April 16, 2012

à espera

Hoje não fiz praticamente nada - parece que tanto nas empresas em véspera de fechar como naquelas que estão só a principiar, o tempo é passado na cantina, a bebericar chá ou café. Ainda faltam muitas coisas para ter o laboratório funcional. O CO2 só chega no final da semana e sabe-se lá quando é que o pobre do electricista acaba o ingrato serviço. Mas enfim, nas conversas que tenho tido o trabalho continua a prometer coisas interessantes. A ver vamos.

Sunday, April 15, 2012

malta & sicília - algumas fotografias








do regresso aos filmes

Sem muito dizer e sem querer comprometer-me em análises, digo apenas que foram boas as horas passadas no cinema a ver estes dois filmes.



primeira semana

Laboratório novo, a estrear. As caixas com o equipamento chegaram no meu primeiro dia e passei, por isso, os dias desta semana a desempacotar equipamento e organizar coisas em gavetas e armários. Muito terapêutico, fez-me lembrar os dias em que enchia caixas com pontas (perdão àqueles que se movem no mundo que existirá com certeza lá fora e para quem esta frase fará pouco ou nenhum sentido).

Na sexta o laboratório começou finalmente a ter cara de gente. Amanhã vem o electricista mudar as tomadas e vamos poder ver se aqueles aparelhos todos ainda funcionam! Alguns parecem autênticas peças de museu. Percebi nestes últimos dias que é possível ter saudades de equipamento de laboratório (sim, daquelas que nos deixam um aperto no coração). Sinto falta dos meus robots!

Do que vi nos passeios que dei à hora de almoço, o parque tecnológico parece ser mais activo - acolhe pequenas empresas, funcionando como uma incubadora, e que por isso tem o potencial de poder vir a ser um local de trabalho muito interessante! Até temos uma horta! Ah, já disse que comigo podem contar para fazer o creme de limão da Maria Ana. Os morangos que os plantem eles...

Monday, April 9, 2012

primeiro dia

Preparada ou não, amanhã é o primeiro dia de trabalho no novo emprego. Laboratório a estrear, caixotes e equipamento para arrumar. A pergunta que mais se faz quando se começa a trabalhar num laboratório, que durante semanas é um lugar estranho, sem sentido ou ordem, é esta: onde está isto, onde arrumam aquilo? Desta vez, estas palavras não se irão ouvir. O que direi e o que irei sentir, só com o tempo vos vou poder contar.

maria rita & companhia

Mais esta para ter saudades de casa. Já me bastava a falta que sinto dos amigos de sempre - apareceram agora estes rebentos a quem apetece aparar as quedas e mostrar as cores do arco-íris.

a casa é onde nós estamos

Pode, ou não, coincidir com o lugar onde o nosso coração mora. Parte do meu, a maior, está em Lisboa e Estremoz. Outra, em Glasgow. Talvez descubra, quando um dia daqui sair, que também em Cambridge deixei um bocadinho de mim.

sobre a leitura dos cadernos

Tanto a caminho de Malta, como no regresso a Portugal, entretive-me a ler os Cadernos. Quero, por isso, deixar aqui algumas impressões:

- Saramago escreveu muitas vezes sobre as preocupações que tinha sobre a Europa e o futuro de Portugal na União Europeia. Quem quiser ler estes livros facilmente concluirá que não era (é) preciso ser bruxo para concluir que o caminho que então se desenhava para a União Europeia (o primeiro caderno data de 1993, há quase 20 anos), em que os pequeninos não têm outro remédio que não o de se tornarem ainda mais pequeninos, só nos poderia trazer onde estamos hoje.

- Lembrei-me de coisas que fiz e pensei, reflexões e preocupações daqueles anos. Recordei-me, por exemplo, de quando escrevi uma carta muito zangada ao Embaixador Francês, protestando contra os ensaios nucleares planeados para o Atol de Moruroa. Escrevi a carta e corri altiva para os correios - Estremoz era pequenino para o meu sonho de mudar o mundo.

- Anos 90, governo cavaquista. O Sr. Silva, pequenino e ignorante era, ignorante e pequenino continua a ser.

- O quanto Saramago foi homenageado fora das nossas fronteiras. Tristemente, é evidente como foi ignorado em Portugal - por aqui também se vê a pequenez de quem nos governa e governou.

- A ternura do homem que Saramago foi está derramada naquelas páginas. O amor a Pilar, à casa que com ela construiu em Lanzarote, com os cães, rodeado de mar e vulcões. O amor, que também sentiu, pela humanidade. É uma delícia.

diários de malta - dia 7

Regresso, desta vez sem sobressaltos - nós e as malas chegámos bem e a horas. Em jeito de conclusão, algumas ideias soltas:

- A comida não foi muito do nosso agrado. Frango ou filete à boa maneira inglesa, sem se lhe ver nem o rabo ou a cabeça.

- Os Cavaleiros de Malta, organização religiosa e militar, tem assento na ONU, como observadores. Pobres Palestinos que vêm lutando há décadas pela extravagância de serem reconhecidos como Estado de pleno direito...

- Queiramos e façamos nós por isso: que o futuro de Portugal não se resuma a ser, apenas, um país-museu, sem gente ou futuro.

diários de malta - dia 6

Muito dormi eu na Sicília. Acordámos às cinco da manhã e duas horas depois atracámos em terras Sicilianas. Com os olhos a pestanejar de tanto sono que levava, ainda assim acordei a tempo de ver as marcas deixadas pelo Etna na paisagem. Rocha balsáltica, rios de lava consolidada podiam ver-se por aquelas encostas abaixo. Lá longe, o Etna espreitava e impunha-se. Subimos num funicular até aos 2500m e até aos 3000m num jipe enorme que rompia por entre a neve que ainda não derreteu.

Chegámos ao fim do mundo, pensei. Céu azul, entrecortado de negro. Paisagem lunar, linda, austera. Apetecia ficar ali e decorar cada relevo, não fosse o vento e o frio que nos adormeceu a cara, os dedos e as orelhas. O passo tinha que ser certo e apressado. As fotografias não lhe farão justiça, muito menos as minhas palavras. Ainda bem que lá fui e espero não me esquecer daquele negro, daquela imensidão e da solidão que lá se pode sentir.

diários de malta - dia 5

Chegados ao quinto dia da nossa viagem já ninguém tem paciência para o nosso pobre guia e para as histórias dos Cavaleiros de Malta. Mas enfim, continuamos a tropeçar nas marcas por eles deixadas, tanto na actual capital de Malta, Valletta, como na antiga, Mdina.

Valletta pareceu-nos cheia de vida e lamentei-me por não ser ali o nosso hotel, onde certamente veríamos mais do espírito que habita a ilha. Mdina transpira antiguidade, parecendo porém abandonada, sem gente a correr por aquelas ruas. Quase uma cidade-museu ou mesmo uma cidade-fantasma. Que estranho.

Tempo para comprar mais umas prendinhas e fazer balanços.

diários de malta - dia 4

Visita a Gozo, a segunda ilha de Malta. Mais pequena, a mesma paisagem, feita de casinhas e mais casinhas. Esqueci-me de mencionar este facto importante, que é, talvez, um dos denominadores comuns aos habitantes da ilha: quase todas as casas têm um santo à porta e muitas estavam enfeitadas para a semana santa que se avizinha. Segundo as contas do guia, 97% da população é católica. Pelo que vimos, não é exagero.

Outra coisa que nos espantou, aqui, mas também na ilha maior, foi a quantidade de casas abandonadas. Há mais casas que Malteses, saímos de lá com essa certeza. O nosso guia (o tal anarco-sindicalista), antigo arquitecto que deixou de o ser, contou-me que não queria ajudar a construir nem mais uma casa que fosse naquela terra. Contou-nos aquelas histórias de conquistas e povos e assim vai vivendo a defender o país que é o seu - ou assim o imagino, com o meu coração dedicado a imaginar moinhos e a inventar D. Quixotes.

diários de malta - dia 3

Sudoeste da ilha: geografia mais acidentada, as arribas fazem as vezes das fortalezas que vimos na zona Este de Malta. Menos casas e mais verde. Mais uma viagem de barco, uma casquinha que nos levou por grutas, recortadas por um mar azul turquesa. Rimos com o vento e o sol a aquecer-nos a cara - haja memória para registarmos estes dias e guardar para sempre aquele azul.

Penso que neste dia também vimos uns monumentos megalíticos, bem preservados, cuja história e significado foi explicado até à exaustão pelo nosso guia. Calhou-nos um homem muito falador (chato dirão alguns do nosso pequeno grupo) que nos explicou a história de Malta de trás para a frente. Estaríamos certamente prontos para um exame escrito aquando do regresso a Portugal. Os Cavaleiros de Malta foram o tema preferido, sem dúvida pela importância que tiveram e que ainda hoje têm no país. Poderia falar (falou!) deles até à eternidade. Via-se que era uma pessoa culta e que gostava daquilo que fazia. Dos nabos que da púcara tentei tirar, convenci-me que é anarco-sindicalista. Lá pinta e conversa tinha-a toda e um guia assim assentou-nos bem.

diários de malta - dia 2

Malta é uma imensa fortaleza e as cidades sucedem-se. Não há muito campo por estes lados e é difícil perceber onde estamos - só com a ajuda de um mapa e depois de perguntarmos mil vezes ao guia o nome da terra que víamos no horizonte. Por esta terra andou quase toda a gente: gregos, fenícios e romanos; turcos, espanhóis, portugueses, as tropas napolitanas e os ingleses. E claro, os Cavaleiros de Malta. A história cruza-se connosco quando andamos pelas ruas e quando avistamos os mil portos de Malta - histórias de ocupantes e ocupados, de ocupantes que foram, mais à frente, ocupados.

Ilha com 450 mil habitantes, saímos de lá sem perceber qual é a identidade que resume os malteses. Talvez porque aquele pedaço de terra, encalhado no Mediterrâneo entre o Norte de África e tão perto de Itália, é o resultado daquele rumar de gente tão diferente. Esses viajantes não deixaram uma marca distinta, ou, pelo contrário, deixaram bocadinhos que se foram diluindo no que já lá estava. Não sei.

O segundo dia da nossa viagem foi passado a percorrer as ruas antigas de Cospicua, Senglea e Vittoriosa. À tarde demos uma volta de barco e vimos os mesmos povoados do mar, este tão azul, tão lindo, com tantos barquitos de pesca. Vale a pena vir para este lado do mundo só para ver este mar.

diários de malta - dia 1

Companheiros de viagem: Marta e o Pai, o Fernando e a Paula, a Lena, o Luís e a Teresa.

O início da viagem foi atribulado. Perdemos o avião em Frankfurt e ali tivemos que ficar, num daqueles hotéis construídos para dar guarida a turistas encalhados como nós. Rumámos a Malta na manhã seguinte, desta vez sem correrias ou atrasos. Já as malas, essas, decidiram ficar em terras alemãs por mais uma noite. Consolada estava eu, desta vez a má sorte não calhou só a mim - eram mais de 30 os aflitos.

Primeiras impressões da ilha: muitas casas, em tons de castanho claro e telhados cortados a direito, preenchem o horizonte. O céu azul e o mar enchem-nos de imediato os olhos.