Saturday, March 24, 2012

cadernos de lanzarote

Pedi ao meu pai que me comprasse os Cadernos de Lanzarote e cá estavam eles à minha espera. Na entrada de 18 de Maio de 1993, Saramago transcreve uma comovedora carta de uma leitora que lhe agradece "o pão das suas palavras". Gostaria de ter escrito isto. Os livros de Saramago são simplesmente isso, pão - precisamos deles para nos fazermos gente.

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"Chegado agora a estes dias, os meus e os do mundo, vejo-me diante de duas probabilidades: ou a razão, no homem, não faz senão dormir e engendrar monstros, ou o homem, sendo indubitavelmente um animal entre os animais, é, também indubitavelmente, o mais irracional de todos eles. Vou-me inclinando cada vez mais para a segunda hipótese, não por ser eu morbidamente propenso a filosofias pessimistas, mas porque o espectáculo do mundo é, em minha fraca opinião, e de todos os pontos de vista, uma demonstração explícita e evidente do que chamo a irracionalidade humana. Vemos o abismo, está aí diante dos olhos, e contudo avançamos para ele como uma multidão de lemings suicidas, com a capital diferença de que, de caminho, nos vamos entretendo a trucidar-nos uns aos outros."
Diário I, Cadernos de Lanzarote
José Saramago

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